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Contos
para leitura no I Bimestre
OS
GATOS DE ULTHAR
Por
H. P. Lovecraft (1890-1937)
Diz-se
que em Ulthar, que se situa além do rio Skai, nenhum homem pode matar um
gato; creio nisto ao olhar o que se senta, a ronronar, diante do fogo. Porque o gato é enigmático, íntimo das coisas
estranhas que os homens não podem ver.
Ele é a alma do antigo Aegyptus e conhecedor das histórias das cidades
esquecidas de Moroë e Ophir. Ele é
parente dos senhores da selva e herdeiro dos segredos da antiga e sinistra
África. A Esfinge é sua prima e ele fala
sem seu idioma. Mas ele é mais antigo
que a Esfinge e se recorda de coisas que ela já se esqueceu.
Em
Ulthar, antes que os cidadãos proibissem
a matança de gatos, viviam um velho camponês e sua mulher, que se divertiam
capturando e matando os gatos dos
vizinhos. Por que eles faziam isso, eu
não sei; todavia, há muitas pessoas que odeiam a voz noturna dos gatos e se
incomodam com suas correrias
furtivas por pátios e jardins no
crepúsculo. Mas seja qual for a razão, esse homem velho e sua
mulher se deleitavam com a captura e morte de todos os gatos que se
acercavam de sua cabana; e, pelos gritos
que eram ouvidos depois do anoitecer, vários aldeães imaginavam que a
maneira de matá-los era extremamente peculiar.
Mas os aldeães não discutiam sobre estas coisas com o velho e sua
mulher; seja por causa da expressão habitual de seus rostos encarquilhados,
seja porque a cabana era minúscula e tenebrosamente escondida sob os carvalhos
que se espraiavam na parte de trás de uma chácara arruinada. Na verdade, por mais que os donos dos gatos
odiassem essas pessoas estranhas, temiam-nas ainda mais; e, em vez de puni-los
como brutais assassinos, somente se acautelavam para que nenhum mascote
querido, ou hábil caçador de ratos, se desviasse em direção à cabana escondida
sob as árvores sombrias. Quando por algum inevitável descuido algum gato sumia,
e ouviam-se alaridos depois do anoitecer,
àquele que perdera o animal restava apenas o lamento impotente; ou o
consolo de agradecer à Sorte por não
haver sido um de seus filhos quem desaparecera. Pois o povo de Ulthar era
simples, e desconhecia a origem dos gatos primevos.
Certo
dia, uma caravana de estranhos peregrinos, procedida do Sul, entrou nas ruas
estreitas e pavimentadas de Ulthar. Aqueles peregrinos eram escuros, diferentes
de outros povos andarilhos que passava pela aldeia duas vezes por ano. Nos mercados, vaticinavam a sorte em troca de
prata, e compravam contas coloridas dos mercadores. Qual era a terra natal desses peregrinos,
ninguém saberia dizê-lo; mas via-se que eram dados a estranhas e extravagantes
orações, e que as laterais de seus vagões eram pintadas com esquisitas figuras
de corpos humanos com cabeças de gatos, falcões, carneiros e leões. E o líder da caravana usava um toucado com
dois cornos e um curioso disco entre eles.
Havia
nessa singular caravana um menino sem pai nem mãe, com um gatinho preto para
acalentar. A praga não havia sido
generosa com ele, mas lhe havia deixado a coisinha peluda para mitigar a sua
dor; e quando se é muito jovem, encontra-se um grande alívio nas animadas
travessuras de um gatinho preto. Dessa
maneira, o menino, a quem o povo escuro chamava de Menes, sorria mais que
chorava, a brincar com o seu gatinho gracioso, sentado nos degraus do vagão
estranhamente pintado.
Certo
dia, durante a terceira semana de
estadia dos viajantes em Ulthar, Menes não conseguiu achar o seu gatinho; e,
quando chorava alto no mercado, alguns aldeães contaram-lhe a história do homem
velho e sua mulher e dos ruídos escutados à noite. Ao ouvir essas coisas, seu pranto deu lugar
à meditação e, finalmente, à oração. Ele
estendeu os braços para o alto, em direção ao Sol e rezou em um idioma que
nenhum dos aldeães pôde compreender, embora, em verdade, estes não se
esforçassem muito em fazê-lo, pois as suas atenções foram absorvidas pelo céu e
pelas estanhas formas que as nuvens assumiam.
Isto era muito estranho, pois, enquanto o garotinho pronunciava a sua
súplica, pareciam formar-se no firmamento figuras sombrias e nebulosas de
coisas exóticas; de criaturas híbridas coroadas com discos ladeados de
cornos. A natureza é repleta de ilusões tais
que impressionam as pessoas imaginativas.
Naquela
noite, os peregrinos deixaram Ulthar e
jamais foram vistos novamente. E os
chefes de família ficaram preocupados quando notaram que em toda a aldeia não havia um só
gato. De cada lar, o gato de família
havia desparecido: gatos pequenos e grandes, cinza, pretos, rajados, amarelos e
brancos. O velho Kranon, burgomestre,
jurou que os viandantes escuros haviam levado consigo todos os gatos,
como vingança pela morte do gatinho de Menes, e amaldiçoou a caravana e o
menino. Mas Nith, o magro escrivão,
declarou que o velho camponês e sua esposa eram os maiores suspeitos, porquanto
o seu ódio por gatos era famoso e cada vez mais ousado. Ainda assim, ninguém ousou queixar-se ao
sinistro casal; nem mesmo quando Atal, o filho do estalajadeiro, jurou que
havia visto todos os gatos de Ulthar ao entardecer, no quintal maldito sob as
árvores. Eles caminhavam em círculos, solene e lentamente, ao redor da cabana,
aos pares, como se realizassem algum inaudito rito bestial. Os aldeães não sabiam até onde poderiam
acreditar num garoto tão pequeno; e, malgrado temessem que o maldito casal
houvesse levado os gatos à morte, preferiam não confrontar o velho camponês até
que este fosse encontrado fora de seu sítio repulsivo e sombrio.
Deste
modo, a aldeia de Ulthar dormiu envolta por um ódio inútil. E quando as pessoas acordaram, ao amanhecer –
vejam isto! –, todos os gatos estavam de volta ao costumeiro lar. Grandes e pequenos, cinza, pretos, rajados,
amarelos e brancos, nenhum deles estava faltando. Voltaram gordos e muito
luzidios, ronronando de satisfação. Os cidadãos comentavam entre si o
acontecimento e não pouco se maravilhavam dele.
O velho Kranon novamente insistia em que o povo escuro os havia levado,
já que gato algum voltava com vida da casa do velho homem e sua esposa. Mas todos estavam de acordo em um ponto: que
a recusa de todos os gatos de comer a sua ração de carne ou de beber em seus
pratinhos de leite era extremamente curiosa.
E, por dois dias inteiros, os gatos de Ulthar, lustrosos e preguiçosos,
não tocaram na comida, ficando apenas deitados junto ao fogo ou sob o Sol.
Uma
semana se passou até que os aldeães notassem que, na cabana sob as árvores, ao
entardecer, as luzes não brilhavam através das janelas. Depois, o magro Nith observou que ninguém
tinha visto o velho ou a sua mulher desde o dia em que os gatos sumiram. Na semana seguinte, o burgomestre resolveu
superar os seus temores e bateu à porta da estranhamente silenciosa
cabana, em cumprimento ao seu dever de
ofício, mas tendo o cuidado de levar consigo, como testemunhas,
o ferreiro Shang e o cortador de pedras Thull. E quando derrubaram a frágil porta,
encontram apenas isto: dois esqueletos humanos, limpos, completamente
descarnados, sobre o chão de terra, e uma porção de singulares besouros
rastejando pelos cantos escuros da
cabana.
Posteriormente,
houve muito falatório entre os cidadãos de Ulthar. Zath, o magistrado, discutiu longamente com
Nith, o magro escrivão; e assediaram Kranon
e Shang e Thul com perguntas. Até
mesmo o pequeno Atal, o filho do estalajadeiro, foi minuciosamente interrogado
e, como recompensa, ganhara confeitos. Falava-se do velho camponês e sua esposa, da caravana de peregrinos
escuros, do pequeno Menes e seu gato preto, da oração de Menes e do céu
misterioso durante a prece, das proezas dos gatos na noite em que partiu a
caravana, e do que foi encontrado na
cabana sob as árvores, naquele sítio repugnante.
E,
no final, os cidadãos aprovaram aquela extraordinária lei, a que é contada
pelos mercadores Hetheg e discutida por viajantes em Nir: a de que em Ulthar nenhum homem poderá jamais
matar um gato.
Versão
em português por Paulo Soriano
Retirado
de: http://www.contosdeterror.com.br/index.php/contos-classicos/465-os-gatos-de-ulthar.html
Enfim, Um
Indivíduo De Idéias Abertas
Marina
Colasanti
A coceira no
ouvido atormentava. Pegou o molho de chaves, enfiou a mais fininha na cavidade.
Coçou de leve o pavilhão, depois afundou no orifício encerado. E rodou, virou a
pontinha da chave em beatitude, à procura daquele ponto exato em que cessaria a
coceira.
Até
que, traque! Ouviu o leve estalo, a chave enfim no seu encaixe, percebeu que a
cabeça lentamente se abria.
Retirado
de: http://marina-colasanti.blogspot.com.br/2010/11/enfim-um-individuo-de-ideias-abertas.html?view=sidebar
Ler
“O melhor amigo de um garoto” de Isaac
Asimov no link: http://www.mobilevirtual.com.br/claroline/backends/download.php?url=LzK6X0JpbWVzdHJlL0NvbGV04m5lYV9kZV9UZXh0b3NfLV9GaWPn429fQ2llbnTtZmljYV8tXzi6X2Fuby5wZGY%3D&cidReset=true&cidReq=PORT82013
1 comentários:
Adorei a história dos gatos... posta mais contos :3
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