5 de março de 2015

Textos para leitura I Bimestre



Olá, crianças!
Vocês podem ler os contos abaixo ou fazer o download clicando aqui. Leiam com atenção pois estes textos serão retomados em sala, ok?

Contos para leitura no I Bimestre

OS GATOS DE ULTHAR

Por H. P. Lovecraft  (1890-1937)


Diz-se que em Ulthar,  que se situa  além do rio Skai, nenhum homem pode matar um gato;  creio nisto  ao olhar o que se senta, a ronronar,  diante do fogo.  Porque o gato é enigmático, íntimo das coisas estranhas que os homens não podem ver.  Ele é a alma do antigo Aegyptus e conhecedor das histórias das cidades esquecidas de Moroë e Ophir.  Ele é parente dos senhores da selva e herdeiro dos segredos da antiga e sinistra África.  A Esfinge é sua prima e ele fala sem seu idioma.  Mas ele é mais antigo que a Esfinge e se recorda de coisas que ela já se esqueceu.

Em Ulthar,  antes que os cidadãos proibissem a matança de gatos, viviam um velho camponês e sua mulher, que se divertiam capturando e  matando os gatos dos vizinhos.  Por que eles faziam isso, eu não sei; todavia, há muitas pessoas que odeiam a voz noturna dos gatos e se incomodam com suas correrias  furtivas  por pátios e jardins no crepúsculo.  Mas seja qual for a razão,  esse homem velho  e sua  mulher se deleitavam com a captura e morte de todos os gatos que se acercavam de sua  cabana; e,  pelos gritos  que eram ouvidos depois do anoitecer, vários aldeães imaginavam que a maneira de matá-los era extremamente peculiar.  Mas os aldeães não discutiam sobre estas coisas com o velho e sua mulher; seja por causa da expressão habitual de seus rostos encarquilhados, seja porque a cabana era minúscula e tenebrosamente escondida sob os carvalhos que se espraiavam na parte de trás de uma chácara arruinada.   Na verdade, por mais que os donos dos gatos odiassem essas pessoas estranhas, temiam-nas ainda mais; e, em vez de puni-los como brutais assassinos, somente se acautelavam para que nenhum mascote querido, ou hábil caçador de ratos, se desviasse em direção à cabana escondida sob as árvores sombrias. Quando por algum inevitável descuido algum gato sumia, e ouviam-se alaridos depois do anoitecer,  àquele que perdera o animal restava apenas o lamento impotente; ou o consolo de agradecer à  Sorte por não haver sido um de seus filhos quem desaparecera. Pois o povo de Ulthar era simples, e desconhecia a origem dos gatos primevos.
Certo dia, uma caravana de estranhos peregrinos, procedida do Sul, entrou nas ruas estreitas e pavimentadas de Ulthar. Aqueles peregrinos eram escuros, diferentes de outros povos andarilhos que passava pela aldeia duas vezes por ano.  Nos mercados, vaticinavam a sorte em troca de prata, e compravam contas coloridas dos mercadores.  Qual era a terra natal desses peregrinos, ninguém saberia dizê-lo; mas via-se que eram dados a estranhas e extravagantes orações, e que as laterais de seus vagões eram pintadas com esquisitas figuras de corpos humanos com cabeças de gatos, falcões, carneiros e leões.  E o líder da caravana usava um toucado com dois cornos e um curioso disco entre eles.
Havia nessa singular caravana um menino sem pai nem mãe, com um gatinho preto para acalentar.  A praga não havia sido generosa com ele, mas lhe havia deixado a coisinha peluda para mitigar a sua dor; e quando se é muito jovem, encontra-se um grande alívio nas animadas travessuras de um gatinho preto.  Dessa maneira, o menino, a quem o povo escuro chamava de Menes, sorria mais que chorava, a brincar com o seu gatinho gracioso, sentado nos degraus do vagão estranhamente pintado.
Certo dia, durante a  terceira semana de estadia dos viajantes em Ulthar, Menes não conseguiu achar o seu gatinho; e, quando chorava alto no mercado, alguns aldeães contaram-lhe a história do homem velho e sua mulher e dos ruídos escutados à noite.   Ao ouvir essas coisas, seu pranto deu lugar à meditação e, finalmente, à oração.  Ele estendeu os braços para o alto, em direção ao Sol e rezou em um idioma que nenhum dos aldeães pôde compreender, embora, em verdade, estes não se esforçassem muito em fazê-lo, pois as suas atenções foram absorvidas pelo céu e pelas estanhas formas que as nuvens assumiam.  Isto era muito estranho, pois, enquanto o garotinho pronunciava a sua súplica, pareciam formar-se no firmamento figuras sombrias e nebulosas de coisas exóticas; de criaturas híbridas coroadas com discos ladeados de cornos.  A natureza é repleta de ilusões tais que impressionam as pessoas imaginativas.
Naquela noite, os peregrinos deixaram Ulthar  e jamais foram vistos novamente.   E os chefes de família ficaram preocupados quando notaram  que em toda a aldeia não havia um só gato.   De cada lar, o gato de família havia desparecido: gatos pequenos e grandes, cinza, pretos, rajados, amarelos e brancos. O velho Kranon, burgomestre,  jurou que os viandantes escuros haviam levado consigo todos os gatos, como vingança pela morte do gatinho de Menes, e amaldiçoou a caravana e o menino.  Mas Nith, o magro escrivão, declarou que o velho camponês e sua esposa eram os maiores suspeitos, porquanto o seu ódio por gatos era famoso e cada vez mais ousado.   Ainda assim, ninguém ousou queixar-se ao sinistro casal; nem mesmo quando Atal, o filho do estalajadeiro, jurou que havia visto todos os gatos de Ulthar ao entardecer, no quintal maldito sob as árvores. Eles caminhavam em círculos, solene e lentamente, ao redor da cabana, aos pares, como se realizassem algum inaudito rito bestial.   Os aldeães não sabiam até onde poderiam acreditar num garoto tão pequeno; e, malgrado temessem que o maldito casal houvesse levado os gatos à morte, preferiam não confrontar o velho camponês até que este fosse encontrado fora de seu sítio repulsivo e sombrio.
Deste modo, a aldeia de  Ulthar dormiu  envolta por um ódio inútil.  E quando as pessoas acordaram, ao amanhecer – vejam isto! –, todos os gatos estavam de volta ao costumeiro lar.   Grandes e pequenos, cinza, pretos, rajados, amarelos e brancos, nenhum deles estava faltando. Voltaram gordos e muito luzidios, ronronando de satisfação. Os cidadãos comentavam entre si o acontecimento e não pouco se maravilhavam dele.  O velho Kranon novamente insistia em que o povo escuro os havia levado, já que gato algum voltava com vida da casa do velho homem e sua esposa.  Mas todos estavam de acordo em um ponto: que a recusa de todos os gatos de comer a sua ração de carne ou de beber em seus pratinhos de leite era extremamente curiosa.   E, por dois dias inteiros, os gatos de Ulthar, lustrosos e preguiçosos, não tocaram na comida, ficando apenas deitados junto ao fogo ou sob o Sol.
Uma semana se passou até que os aldeães notassem que, na cabana sob as árvores, ao entardecer, as luzes não brilhavam através das janelas.  Depois, o magro Nith observou que ninguém tinha visto o velho ou a sua mulher desde o dia em que os gatos sumiram.  Na semana seguinte, o burgomestre resolveu superar os seus temores e bateu à porta da estranhamente silenciosa cabana,  em cumprimento ao seu dever de ofício, mas tendo o cuidado de levar consigo, como  testemunhas,  o ferreiro Shang e o cortador de pedras Thull.   E quando derrubaram a frágil porta, encontram apenas isto: dois esqueletos humanos, limpos, completamente descarnados, sobre o chão de terra, e uma porção de singulares besouros rastejando pelos  cantos escuros da cabana.
Posteriormente, houve muito falatório entre os cidadãos de Ulthar.  Zath, o magistrado, discutiu longamente com Nith, o magro escrivão; e assediaram Kranon  e Shang e Thul  com perguntas. Até mesmo o pequeno Atal, o filho do estalajadeiro, foi minuciosamente interrogado e, como recompensa, ganhara confeitos. Falava-se do velho camponês  e sua esposa, da caravana de peregrinos escuros, do pequeno Menes e seu gato preto, da oração de Menes e do céu misterioso durante a prece, das proezas dos gatos na noite em que partiu a caravana,  e do que foi encontrado na cabana sob as árvores, naquele sítio repugnante.
E, no final, os cidadãos aprovaram aquela extraordinária lei, a que é contada pelos mercadores Hetheg e discutida por viajantes em Nir:  a de que em Ulthar nenhum homem poderá jamais matar um gato.


Versão em português por Paulo Soriano


Enfim, Um Indivíduo De Idéias Abertas
Marina Colasanti

A coceira no ouvido atormentava. Pegou o molho de chaves, enfiou a mais fininha na cavidade. Coçou de leve o pavilhão, depois afundou no orifício encerado. E rodou, virou a pontinha da chave em beatitude, à procura daquele ponto exato em que cessaria a coceira.
Até que, traque! Ouviu o leve estalo, a chave enfim no seu encaixe, percebeu que a cabeça lentamente se abria.
Retirado de: http://marina-colasanti.blogspot.com.br/2010/11/enfim-um-individuo-de-ideias-abertas.html?view=sidebar












1 comentários:

Lais Lopes disse...

Adorei a história dos gatos... posta mais contos :3